quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Aula com sucata leva professora de SP a ser finalista do Global Teacher Prize

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imagem de educacao.uol.com.br
Os alunos desconfiaram quando Débora Garofalo propôs que construíssem em sala de aula um carrinho com materiais recicláveis , que iria se mover sozinho, usando apenas uma bexiga de festa. Alguns minutos depois, as crianças de 11 anos comemoravam ao ver o brinquedo, que montaram, se locomovendo. "A partir desse dia, minhas aulas mudaram. A ideia se espalhou e todas as turmas queriam fazer o mesmo", conta a professora, que depois dessa experiência criou o projeto Robótica com Sucata.

O trabalho desenvolvido na Escola Municipal Almirante Ary Parreiras, na Vila Babilônia, zona sul de São Paulo, levou Débora a ser uma das dez finalistas do Global Teacher Prize, considerado a maior premiação de educação do mundo. É o terceiro ano que o Brasil tem um professor concorrendo a US$ 1 milhão (cerca de R$ 3,7 milhões) na final.

O projeto teve início em 2014, quando Débora começou a trabalhar no laboratório de informática da escola. Ela percebeu que os alunos adoravam os minutos em que iam para esse espaço, mas por acreditar que era para jogos de computador. "Para as crianças, era o momento dos joguinhos. E percebi que eles podiam aproveitar melhor esse tempo, descobrindo de fato o que é tecnologia", conta. 

Ela diz que queria ensinar robótica para os alunos, mas faltavam recursos. No entanto, a solução para o problema estava no entorno da escola: o entulho e lixo descartado nas ruas pelos moradores do bairro. "Levei os alunos para dar uma volta e pedi para que recolhessem materiais recicláveis. Quando voltamos para a sala, pensamos em como poderíamos usá-los." 

Em três anos, Débora e os cerca de 700 alunos de 1.º ao 9.º ano do ensino fundamental recolheram mais 700 quilos de recicláveis e produziram protótipos de aspirador de pó, mão mecânica e até placas para a produção de energia solar. "Apesar de animados com a ideia de construir sozinhos, muitas vezes eles não acreditavam que conseguiriam. Eles diziam que robótica era só para alunos de escola particular."

A professora conta que o maior desafio foi convencer os alunos de que eles tinham capacidade e condições de construir o que quisessem. "É uma região muito carente, sofrem com a pobreza. Entendo esse sentimento porque vim de uma família carente também. Foram meus professores que me fizeram acreditar que eu podia ser o que quisesse e eu queria fazer o mesmo para os meus alunos." A escola fica no distrito do Jabaquara que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem 18,3% dos domicílios em favelas. 
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Débora conta que a o projeto teve impactos que ela não imaginava, como a redução de lixo descartado irregularmente no bairro. "No começo, cada vez que eu saía com uma turma para a coleta de materiais, voltávamos com 30 a 40 quilos de recicláveis. Agora, quase não achamos mais. Os alunos chamaram a atenção da comunidade para um problema que ocorria há anos e ninguém se dava conta."

O colégio enfrenta ainda bastante dificuldade com a defasagem de aprendizado. Dados da Prova Brasil, avaliação do Ministério da Educação, mostram que só 31% dos alunos do 5.º ano tinham, em 2017, desempenho considerado adequado em Matemática para a série - bem abaixo das médias estadual e nacional, (61% e 42%), respectivamente, no nível adequado. 

Trajetória

Formada em Letras e Pedagogia, Débora conta que desde criança sonhava em ser professora. Quando terminou o ensino fundamental, ingressou no antigo magistério, onde confirmou sua opção profissional. "Muitos professores na época me perguntaram se eu tinha certeza de que era esse caminho que queria seguir. Eles falavam que trabalhavam muitas horas e ganhavam muito pouco. Eu sabia que seria difícil, mas ainda assim quis tentar." 

O principal apoio para seguir a carreira veio da mãe, que trabalhava como assistente de estacionamento em um clube de elite da cidade e nunca conseguiu concluir o ensino médio. "Minha mãe não teve um estudo formal, mas lia muito e valorizava a educação", diz Débora. "Ela sempre dizia que a única coisa que poderia me deixar e que nunca ninguém iria me tomar era a educação." 

FONTE:
https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2019/02/21/interna_nacional,1032491/aula-com-sucata-leva-professora-de-sp-a-ser-finalista-do-global-teache.shtml
https://educacao.uol.com.br/noticias/agencia-estado/2019/02/21/aula-com-sucata-leva-professora-de-sp-a-ser-finalista-do-global-teacher-prize.htm

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Tabela periódica completa 150 anos: conheça sua história

POR MARK LORCH*
A tabela periódica separa elementos em colunas e linhas de acordo com suas propriedades químicas e físicas (Foto: Wikimedia Commons)
A TABELA PERIÓDICA SEPARA ELEMENTOS EM COLUNAS E LINHAS DE ACORDO COM SUAS PROPRIEDADES QUÍMICAS E FÍSICAS (FOTO: WIKIMEDIA COMMONS)
A tabela periódica está nas paredes de quase todos os laboratórios de química. O crédito para sua criação geralmente vai para Dimitri Mendeleev, um químico russo que, em 1869, escreveu os elementos conhecidos (dos quais havia 63 na época) em cartões e os organizou em colunas e linhas de acordo com suas propriedades químicas e físicas. Para celebrar o 150º aniversário deste momento crucial na ciência, a ONU proclamou 2019 como o ano internacional da tabela periódica.

Mas a tabela periódica não começou com Mendeleev. Muitos tinham trabalhado na organização dos elementos. Décadas antes, o químico John Dalton tentou criar uma tabela, bem como alguns símbolos bastante interessantes para os elementos. John Newlands também criou uma tabela classificando os elementos por suas propriedades.

A genialidade de Mendeleev estava no que ele deixou de fora de sua tabela. Ele reconheceu que certos elementos estavam faltando, ainda a serem descobertos. Então, onde Dalton, Newlands e outros publicaram o que era conhecido, Mendeleev deixou espaço para o desconhecido. Ainda mais surpreendente, ele previu com precisão as propriedades dos elementos que faltavam.

A tabela mostrava elementos que ainda não haviam sido descobertos (Foto: Wikimedia Commons)
A TABELA MOSTRAVA ELEMENTOS QUE AINDA NÃO HAVIAM SIDO DESCOBERTOS (FOTO: WIKIMEDIA COMMONS

Você notou os pontos de interrogação em sua tabela acima? Por exemplo, ao lado de Al (alumínio) há espaço para um metal desconhecido. Mendeleev previu que teria uma massa atômica de 68, uma densidade de 6g/cm³ e um ponto de fusão muito baixo. Seis anos depois, Paul Émile Lecoq de Boisbaudran isolou o gálio e, com certeza, penetrou na abertura com uma massa atômica de 69,7, uma densidade de 5,9g/cm³ e um ponto de fusão tão baixo que se torna líquido na mão. Mendeleev fez o mesmo para escândio, germânio e tecnécio (que só foi descoberto em 1937, 30 anos após sua morte).

À primeira vista, a tabela de Mendeleev não se parece muito com a que estamos acostumados. Por um lado, a tabela moderna tem vários elementos que Mendeleev ignorou (e não deixou espaço para), principalmente os gases nobres (como hélio, néon, argônio). E a tabela é orientada de maneira diferente da nossa versão moderna, com elementos que agora colocamos juntos em colunas dispostas em linhas.

Mas quando você dá uma volta de 90 graus à tabela de Mendeleev, a semelhança com a versão moderna se torna aparente. Por exemplo, os halogênios - flúor (F), cloro (Cl), bromo (Br) e iodo (I) (o símbolo J na tabela de Mendeleev) - todos aparecem próximos um do outro. Hoje eles são organizados na 17ª coluna da tabela (ou grupo 17, como os químicos preferem chamar).

Período de experimentação

Pode parecer um pequeno salto disso para o diagrama que conhecemos hoje mas, anos depois das publicações de Mendeleev, houve muita experimentação com layouts alternativos para os elementos. Mesmo antes de a tabela ter seu ângulo permanente, as pessoas sugeriram algumas reviravoltas estranhas e maravilhosas.

Um exemplo particularmente notável é a espiral de Heinrich Baumhauer, publicada em 1870, com o hidrogênio no centro e elementos com massa atômica crescente espiralando para fora. Os elementos que caem em cada um dos raios da roda compartilham propriedades comuns, assim como aqueles em uma coluna (grupo) o fazem na tabela de hoje. Havia também uma formulação bastante estranha de "halteres", feita por Henry Basset em 1892.

No entanto, no início do século 20, a tabela se estabeleceu em um formato horizontal familiar com a versão impressionante de Heinrich Werner em 1905. Pela primeira vez, os gases nobres apareceram em sua posição na extremidade direita da tabela. Werner também tentou tirar uma folha do livro de Mendeleev, deixando lacunas, embora ele exagere no trabalho de adivinhação com sugestões de elementos mais leves que o hidrogênio e outro localizado entre hidrogênio e hélio (nenhum deles existe).

Apesar dessa tabela bastante moderna, ainda havia um pouco de rearranjo a ser feito. A versão de Charles Janet foi particularmente influente. Ele adotou a abordagem de um físico à tabela e usou uma teoria quântica recém-descoberta para criar um layout baseado em configurações eletrônicas. A tabela resultante da “etapa esquerda” ainda é preferida por muitos físicos. Curiosamente, Janet também forneceu espaço para elementos até o número 120, apesar de apenas 92 serem conhecidos na época (estamos com 118 agora).

Estabelecendo um design

A tabela moderna é na verdade uma evolução direta da versão de Janet. Os metais alcalinos e os metais alcalino-terrosos  foram deslocados da extrema direita para a extrema esquerda para criar uma tabela periódica muito ampla (forma longa). O problema com esse formato é que ele não cabe muito bem em uma página ou em um pôster, portanto, em grande parte por razões estéticas, os elementos do bloco f são geralmente cortados e depositados abaixo da tabela principal. É assim que chegamos à tabeça que reconhecemos hoje.

Isso não quer dizer que as pessoas não tenham lidado com os layouts, muitas vezes como uma tentativa de destacar as correlações entre elementos que não são aparentes na tabela convencional. Há literalmente centenas de variações (confira o banco de dados de Mark Leach), com espirais e versões em 3D sendo particularmente populares, para não mencionar as variantes mais explícitas.

O que você acha da minha própria fusão de dois gráficos icônicos, a tabela de Mendeleev e o mapa do metrô de Londres de Henry Beck abaixo?

MARK LORCH FEZ A PRÓPRIA VERSÃO DA TABELA PERIÓDICA (FOTO: REPRODUÇÃO/MARK LORCH)

Ou o conjunto vertiginoso de imitações que visam dar uma sensação científica à categorização de tudo, desde cerveja a personagens da Disney, e meu particular “absurdo irracional”. Tudo isso mostra como a tabela periódica de elementos se tornou o símbolo icônico da ciência.

* Mark Lorch é professor na Universidade de Hull (Inglaterra). O artigo foi publicado originalmente em inglês no site The Conversation.

FONTE: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2019/01/tabela-periodica-completa-150-anos-conheca-sua-historia.html

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

8 motivos científicos que provam que ler faz bem para você

 (Foto: Pixabay)
Imagem de revistagalileu.globo.com

A leitura é alternativa de diversão e relaxamento para muita gente, mas o que poucos sabem é que existem diversos motivos científicos para amar os livros. A GALILEU listou oito deles para te incentivar a ler ainda mais.

Crescer cercado por livros te dá mais chances de se dar bem na vida adulta
Segundo estudo realizado pela Universidade de Pádua, na Itália, as crianças que crescem cercadas por livros têm mais chances de ter sucesso na vida adulta. Economistas notaram que os jovens que têm livros que não façam parte das leituras obrigatórias da escola, ou seja, que leem por prazer, tinham salários 21% melhores.

Para os especialistas, isso se deve ao fato de que essas pessoas têm mais chances de aprender sobre a vida e o universo, adquirindo novas experiências.

Muitas pessoas ouvem vozes durante a leitura
A cientista Ruvanee Vilhauer, da Universidade de Nova York, descobriu que 82,5% das pessoas ouvem vozes enquanto estão lendo. A pesquisa, feita por meio de questionário online, também descobriu que 10,6% dos leitores se espantaram de pensar em passar por essa experiência.

O curioso é que grande parte dos leitores que conseguem “escutar os personagens” achava que todos também podiam ouvi-los.

Livros de ficção nos ensinam a ser mais humanos
Estudo da New School de Nova York mostra que quem lê ficção tem mais chances de ter maior capacidade de compreender que outras pessoas carregam crenças e desejos diferentes dos seus, ou seja, ter mais empatia.

“Entender o estado mental de outras pessoas é uma habilidade importante no aspecto social e faz parte de qualquer sociedade humana“, afirma o estudo.

Ler aumenta sua expectativa de vida
Pessoas que dedicam mais de três horas por semana à leitura tendem a viver pelo menos dois anos a mais do que quem não lê. Pelo menos é isso o que sugere estudo da Universidade Yale, dos EUA.

As observações foram feitas por 12 anos com mais de 3 mil pessoas e, durante esse tempo, 17% dos que conservavam o hábito de ler pelo menos 3,5 horas por semana tinham menos chances de morrer.

Ao ler, sua criatividade é fortalecida
Pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, descobriram que pessoas que leem ficção têm mais tendência a aceitar pensamentos ambíguos e passam a entender diferentes aspectos de um mesmo assunto. Isso significa que, graças à leitura, é mais fácil encontrar alternativas diferentes no dia a dia.

Ler ajuda a diminuir o estresse
Ler por apenas seis minutos ajuda a diminuir cerca de 68% dos níveis de estresse. Isso foi o que perceberam os pesquisadores da Universidade de Sussex, no Reino Unido, ao notarem que após o breve período de tempo os voluntários tinham queda na frequência cardíaca e conseguiam relaxar os músculos.

Durante a leitura, diferentes partes do cérebro são estimuladas
A Universidade Stanford, dos Estados Unidos, provou que durante a leitura diferentes áreas do cérebro são afetadas. Isso porque foi notado que o fluxo sanguíneo aumentou em certos locais do órgão: “Prestar atenção em textos literários requer coordenação de várias funções do sistema cognitivo”, contam os cientistas.

Ler diminui as chances de ter demência
Estudo publicado na Neurology pelo Centro Médico da Universidade de Rush, nos Estados Unidos, mostra que pessoas que têm o hábito de leitura preservam por mais tempo suas habilidades mentais.


A pesquisa foi feita com 294 indivíduos, depois de mortos. Aqueles que afirmavam ler, escrever e jogar jogos frequentemente ao longo da vida tinham menos chances de desenvolver demência.

FONTE: https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2017/06/8-motivos-cientificos-que-provam-que-ler-faz-bem-para-voce.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=post

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Tabela periódica mais antiga do mundo é encontrada na Escócia

Produzido em 1885, quadro é um dos primeiros da Europa e ficou perdido em sala de universidade por mais de 46 anos

Tabela periódica de 1885 foi produzida em Viena (Foto: University of St Andrews)
TABELA PERIÓDICA DE 1885 FOI PRODUZIDA EM VIENA (FOTO: UNIVERSITY OF ST ANDREWS)
Em 2014, o professor Alan Aitken encontrou uma tabela periódica datada de 1885 em um acervo da Universidade  St Andrews, na Escócia, que continha produtos de laboratório, equipamentos e outros objetos do departamento de química da faculdade. 

A sala foi inaugurada em 1968, quando a St Andrews se mudou para o atual endereço. Ou seja, o quadro ficou guardado (e perdido) por 46 anos. 

Durante o manuseio, os pesquisadores perceberam que seu material era muito frágil e começou a se desfazer. Por isso, o item foi diretamente enviado para autenticação e reparação. 

A tabela é um dos primeiros exemplares do mundo, visto que não possui elementos posteriores identificados. Ela é escrita em alemão e uma inscrição no canto inferior esquerdo – 'Verlag v. Lenoir & Forster, Wien' – identifica uma impressora científica que operou em Viena, na Áustria, entre 1875 e 1888. Outra frase – 'Lith. von Ant. Hartinger & Sohn, Wien' – nomeia o litógrafo que gravou os itens no catálogo. 

Eric Scerri, especialista em tabela periódica da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos Estados Unidos, estima que o quadro tenha sido produzido entre 1879 e 1886, com base nos elementos representados. Tanto o gálio (Ga) quanto o escândio (Sc) – descobertos em 1875 e 1879, respectivamente – estão presentes, enquanto o germânio, identificado em 1886, não está.

Tabela periódica antiga em tratamento de lavagem (Foto: University of St Andrews)
TABELA PERIÓDICA ANTIGA EM TRATAMENTO DE LAVAGEM (FOTO: UNIVERSITY OF ST ANDREWS)
Restauração
O suporte de papel do quadro era frágil e quebradiço, seu formato laminado e o revestimento de linho pesado contribuíam para sua condição mecânica ruim. Para torná-lo seguro e manuseável, a universidade recebeu um financiamento para a reparação.

O tratamento consistiu em remover a sujeira e detritos da superfície, separando o papel do suporte de linho. Houve lavagem em água desionizada ajustada a um pH neutro com hidróxido de cálcio para remover a descoloração solúvel e um pouco da acidez. Além disso, a tabela recebeu "desacidificação" por imersão em um banho de hidrogenocarbonato de magnésio para depositar reserva alcalina no papel. Para reparar rasgos e perdas, foi usado papel kozo japonês e pasta de amido de trigo.

O financiamento também permitiu a produção de um fac-símile (cópia) em tamanho real do quadro, que agora está em exibição no departamento de química da faculdade. A tabela original está armazenada em uma área climatizada do setor de Coleções Especiais da Universidade St Andrews. 

Histórico 
M Pilar Gil, pesquisadora da área de Coleções Especiais, encontrou nos registros financeiros antigos de St Andrews um pedido para a compra de uma tabela de 1885 pelo professor Thomas Purdie, em outubro de 1888. O item foi incluído nas despesas da turma de química daquela época. Segundo ela, esta tabela parece ser a única sobrevivente deste período em toda a Europa.

FONTE: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2019/01/tabela-periodica-mais-antiga-do-mundo-e-encontrada-na-escocia.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=post

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

"NÃO PRECISAMOS DE TECNOLOGIAS INCRÍVEIS, MAS DE PROFESSORES MOTIVADOS"

Anthony Salcito, VP de Educação Global da Microsoft, defende que é preciso celebrar papel do professor diante das transformações digitais.
Essa é a quarta ou quinta de vez que Anthony Salcito visita o Brasil. Ele não tem lá muita certeza, já que todos os anos seu trabalho o leva a conhecer escolas de até quarenta países. À frente da divisão global de educação da Microsoft, Salcito é o responsável pelos projetos da companhia no setor, que incluem o uso do jogo Minecraft para ensinar disciplinas tradicionais na escola até um recente programa de tradução (em português) para professores. Mais do que produtos em si, o executivo gosta de discutir estratégia. Para ele, o setor hoje vive um dilema: ao mesmo tempo em que as escolas sentem a pressão por mudar a forma como ensinam, precisam aprender a maneira mais eficaz de "abraçar" a tecnologia na sala de aula.

Antes de se tornar VP em 2009, Salcito foi gerente geral de educação nos Estados Unidos, ajudando a lançar os programas educacionais que lutavam contra a exclusão digital do país. Também foi o responsável por criar a Microsoft School of the Future – uma parceria com a School District of Philadeplhia que visa ensinar as habilidades - tecnológicas e comportamentais - necessárias para o futuro do trabalho. No dia a dia de viagens, conversa gestores de escolas, estuda novas tecnologias, conhece professores como Richard, o ganês que ficou famoso nas redes sociais após uma foto de sua aula ser divulgada. Sem recursos ou computadores, Richard escreveu na lousa o Office para mostrar aos alunos como é um Word. 

Antes de falar sobre gamification ou realidade virtual, Anthony defende que o que faz a educação ser boa - e o aprendizado eficaz - é mesmo o professor. É ele quem vai conseguir entender o papel da tecnologia, motivar alunos que já chegam às salas sem "nenhuma certeza de um futuro brilhante" ou entender quais são as habilidades necessárias para o futuro dos jovens. É ele quem também, por outro lado, precisa mudar a forma de ensinar por meio de "capítulos". E é ele quem precisa ser celebrado - para conseguir errar, criar e, assim, inovar. "Os professores são agora mais incríveis do que nunca. A oportunidade para eles inovarem - com a tecnologia - no aprendizado é muito maior agora", disse. Em entrevista à Época NEGÓCIOS, o executivo analisa o uso da tecnologia no setor, de que forma a educação pode ser transformada e como o Brasil está frente aos desafios:

Em que estágio da educação estamos hoje?

No Brasil, grande parte da mudança já foi realizada. Os estudantes já se veem diferentes, fazem conexão entre o mundo digital e físico de forma natural, usam tanto um celular quanto um livro para aprender, colaboram entre si de forma online. O aprendizado já está muito além da sala de aula. Por outro lado, o sistema educacional do Brasil, assim como de outros países, precisa reconhecer que a forma de aprender mudou e que o local de trabalho para o qual estamos preparando nossos alunos mudou. É preciso abraçar essa oportunidade de mudança. E aí o erro que vejo é que o sistema educacional sente a pressão por mudar, até quer abraçar a mudança, mas pensa: a tecnologia é que vai catalisar todas essas mudanças. “Vamos comprar um monte de tecnologia então.” Mas, muitas vezes, as escolas perdem a mão nisso. 

Por que não é só uma questão de comprar tecnologia?

A forma como nós compartilhamos ideias e conhecimentos mudou e é aí que o sistema educacional precisa se adaptar. A questão toda é como criar novas experiências na sala de aula. Em países como o Brasil essa mudança vira algo negativo nas escolas, cria uma pressão em cima dos professores, eles se sentem desconfortáveis, sentem que seu papel diminuiu ou que a tecnologia ameaça seus valores e, frequentemente, seu trabalho. Mas o que aprendemos é o oposto. Os professores são agora mais incríveis do que nunca. Antes, o trabalho deles era ensinar uma lição de um capítulo de um livro didático, transmitir o conteúdo do livro para o cérebro dos alunos. Agora, a oportunidade para eles inovarem no aprendizado é muito maior. Eles podem focar no desenvolvimento das habilidades dos alunos – porque o conteúdo em si já está disponível no celular. É por estas razões que precisamos, em qualquer país, celebrar o professor, mostrar aqueles que estão buscando ensinar com novas metodologias. Se considerarmos que a educação é o motor para a prosperidade econômica, os professores são o combustível deste motor. E precisamos garantir que colocamos o melhor combustível.

De quem é o papel treinar os professores para eles inovarem e aplicarem novas metodologias?

A Microsoft já treinou mais de 10 milhões de professores na última década, online e presencial, inclusive no Brasil. Mas de forma geral, é um comprometimento que toda escola deve ter e, para isto, precisamos de bons profissionais na direção delas. De gente que estimule uma cultura onde o professor não tenha  medo de errar, que esteja aberta a novas ideias, que celebre as conquistas e mudanças. A realidade é que nós não precisamos de tecnologias incríveis, nós precisamos de professores animados em inspirar estudantes e que os deixem confortáveis em usar as tecnologias. É preciso criar esse novo ambiente de aprendizado.

Quais são as habilidades que os professores precisam ensinar aos alunos?
Depois de muito tempo focado em desenvolver leitura, redação e aritmética dos alunos, os educadores passaram a voltar-se aos Cs: criatividade, comunicação, colaboração e pensamento crítico (critical thinking em inglês). Um quinto C vem ganhando importância, o computational thinking. Os alunos precisam entender o papel que a tecnologia pode desempenhar e em como podem pensar de maneira diferente sobre vários datasets (conjunto de dados). Bem, mas também gosto de citar um sexto C. Em um mundo cada vez mais aberto e transparente, precisamos também desenvolver caráter. Precisamos de alunos conectados, cidadãos responsáveis do mundo, que aceitem as diferenças, lutem pelas causas que precisam lutar e usem seu talento para resolver problemas que o mundo precisa.

Grande parte das tecnologias focam na personalização do ensino ao aluno. O que você acha desse método de ensino? 

Em muitos casos, personalização do ensino significa que as crianças estão aprendendo de acordo com sua performance. Mas, personalização começa com habilidades. Pense em uma típica aula de história, com cinco pessoas ouvindo o professor na sala. Cada um deles têm um entendimento diferente sobre história, gosta de uma parte diferente, se importa - ou não - com a história da nossa sociedade. Eu sei mais sobre história dos Estados Unidos, você sabe mais sobre a história do Brasil. Se a aula for dada abrindo o livro na página 1 do capítulo 1, a personalização desaparece. Aquele que não gosta de história vai ficar totalmente entediado. Essa é a dinâmica que acontece na sala de aula. A aprendizagem tradicional vai ser frustrante para os estudantes. Mas, pense bem, se eu for falar de história sob a ótica das habilidades. Dou um exemplo que ocorreu na história, discutimos qual lição podemos tirar daí e incito os alunos a pensar o que fariam naquela situação.  A energia da sala muda completamente, a história torna-se mais contextual, os alunos conectam aquele novo aprendizado a suas vidas. E isso não requer nenhuma análise de dado, nenhuma tecnologia, é apenas uma maneira diferente de pensar sobre esse novo contexto de aprendizagem. Isso também é personalização.

Por falar em aprendizado “mais divertido”, muitas escolas estão investindo na gamification – e a Microsoft investe bastante nisso. É um método eficaz hoje?

Você pode falar em gamification de duas formas: uma é jogar um jogo como um sistema de motivação. Ao contrário de um projeto, você tem uma equipe e um plano. Outra diferente é criar um sistema de aprendizado baseado em jogos, quando usa um jogo para criar uma nova oportunidade. O Minecraft, por exemplo, já é utilizado em milhares de escolas para ajudar os alunos a entender geometria, artes até programação. E uma coisa que a maioria dos professores não sabe sobre o Minecraft: apenas um terço do tempo que as pessoas ficam jogando, elas estão jogando de fato. O restante, gastam colaborando, compartilhando outras ideias, pesquisando, vendo vídeos para descobrir dicas, fazendo análises sobre construção. Porque quando você joga, você percebe que não pode simplesmente sair construindo blocos porque as dimensões vão estar erradas e você vai precisar refazer tudo. Os alunos se planejam para construir. E os professores vêm isso. O que defendemos é que os alunos estejam aplicando seu aprendizado usando várias disciplinas – porque é isso que está ocorrendo no cérebro deles. O aprendizado baseado em jogo libera outros potenciais, outras formas de encarar as coisas e lidar com a realidade.

Isso implica utilizar em larga escala celulares e notebooks na sala de aula. Mas muitos professores ainda veem o celular como inimigo número 1...

O ambiente de aprendizado precisa ter um propósito de existir. Já que o conteúdo está disponível em todo lugar, a maneira como pensamos no sistema educacional precisa estar conectada ao que os alunos desejam, ao que querem fazer depois que saírem da escola. E aí a tecnologia pode ajudar como ferramenta, para os alunos criarem e compartilharem ideias. Quando você usa a tecnologia pela tecnologia, para aprender por aprender, professores podem se perguntar: por que fazemos isso? Mas quando os professores abraçam o papel que a tecnologia pode desempenhar, eles realmente entendem seu papel. Passam a usar o tempo que têm com os alunos para criar um projeto e aplicar o aprendizado em conjunto. Passar a usar a tecnologia para ter mais insights sobre a progressão dos alunos e como eles podem obter melhores resultados. Os alunos, por outro lado, trazem novas ideias, se conectam a outros alunos de outras partes do mundo. Precisamos usar a tecnologia para transformar, não apenas para automatizar a educação.

Tudo isso que você está citando considera que as escolas têm acesso à internet e podem investir em tecnologia.

Sim, é verdade. Uma das frentes que a Microsoft atua é trabalhar com operadoras para tornar a conectividade de banda larga mais disponível nas escolas – aproveitando o espectro já disponível de antenas. Outro ponto é trabalhar com parceiros para criar aquilo que chama-se de content access points. Trata-se de um ponto de acesso sem fio com um sistema opcional de distribuição de conteúdo digital. Essa interface e dispositivo de armazenamento podem ser carregados com materiais educacionais para os alunos, sem exigir acesso à Internet. Além disso, esses pontos de acesso podem ser “carregados” à noite, quando a conectividade na escola não é demandada. Precisamos ser mais espertos sobre como usamos a tecnologia em cenários de baixa conectividade.

Um professor de Gana, ficou famoso nas redes sociais, ao desenhar o Word em lousas. O que essa história representou para vocês?

O Richard – este é o nome dele - estava mostrando às crianças como usar o Word sem que eles tivessem computadores. Esse caso demonstrou que há uma aceitação geral dos professores de quererem ensinar as habilidades tecnológicas aos alunos. Há a compreensão firme de que a tecnologia é fundamental para o ambiente de trabalho deles no futuro. E o Richard – assim como vários professores no Brasil – fazem mágica para ensinar isso. Eles doam seu tempo e usam recursos que têm disponíveis porque se importam com seus estudantes. Mas, fato é que nós trouxemos o Richard para nossa comunidade global de educadores, o levamos para aprender e compartilhar sua história em Cingapura. Eu me encontrei com ele pessoalmente.

Qual é o maior desafio que o setor de educação enfrenta – é falta de investimentos (governo e empresas), de professores como o Richard ou de alunos motivados?

Na minha visão, é mudar a atitude dos estudantes. Considere por exemplo aqueles que vêm de um bairro pobre ou que vivem em uma família pobre. Nenhum deles vai para a sala de aula esperando um futuro brilhante. Bem como não creem que o mundo espera isso deles. Mas nós precisamos motivá-los, incentivá-los a desenvolver suas capacidades, mudar essa mentalidade. Também precisamos de mais professores que abracem a tecnologia e precisamos, claro, de vontade política dos países para mudar a educação. Precisamos mudar o sistema que se mantém apenas para conseguir votos na próxima eleição. A mudança que ocorrerá no Brasil não virá em cinco anos – mas em 30 anos.  Eu estive com a ministra da Educação do Quênia no ano passado. Ela tinha uma foto da Coreia de 1975. Perguntei a razão da imagem estar ali, ela olhou para a foto e me disse: é assim que nosso país está hoje. Abaixou a foto, fazendo referência à Coreia atual, e então me disse: e é esse o país que vamos construir. A Coreia fez essa mudança em 30 anos – mas é algo que pode ocorrer também em qualquer lugar do mundo com planejamento no longo prazo. 

Fonte primária: O Globo 

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FONTE: https://coruja-prof.blogspot.com/2018/08/nao-precisamos-de-tecnologias-incriveis.html

sábado, 9 de fevereiro de 2019

A corrida do nióbio

Metal emblemático do governo Bolsonaro atinge alta histórica e ganha novas aplicações na indústria automobilística e na construção civil

Crédito: Heinrich Pniok
ALTO VALOR Pequenas quantidades do produto tornam o aço mais resistente, leve e flexível (Crédito: Heinrich Pniok)
O presidente Jair Bolsonaro é um entusiasta do nióbio, metal que forma uma liga de alta resistência e maleabilidade com o aço e cujo mercado mundial é dominado por uma empresa nacional, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), controlada pela família Moreira Salles. Em um vídeo gravado há dois anos, Bolsonaro dizia que o produto seria capaz de garantir a independência econômica do País. Empolgado, ele planejava a criação de um Vale do Nióbio na região de Araxá, em Minas Gerais, onde fica a mineradora, nos moldes do Vale do Silício, pólo tecnológico na Califórnia. A ideia parecia boa, mas era exagerada. Embora seja muito útil e valioso e renda US$ 2 bilhões em exportações por ano para o País, o nióbio não é insubstituível e nem é uma panacéia. Para fazer crescer seu mercado e desenvolver novas utilizações, a CBMM tem que investir US$ 150 milhões por ano em tecnologia.

“Se a gente considerar que o Brasil esse ano vai exportar mais de 200 bilhões de dólares, o nióbio representa menos de 1% das exportações” Eduardo Ribeiro, CEO da CBMM(Crédito:Silvia Zamboni)

Preço em alta
“A capacidade produtiva atual é maior do que demanda, então não faz sentido aumentar muito a produção”, diz Eduardo Ribeiro, CEO da CBMM, que tem 80% do mercado mundial. “Se a gente considerar que o Brasil esse ano vai exportar mais de US$ 200 bilhões, o nióbio representa menos de 1% do total de exportações”. Atualmente o preço do produto está em alta. O ano de 2018 foi excelente para a CBMM, que vem ampliando as utilizações do Nióbio na área da construção civil e na indústria automobilística, inclusive com a produção de baterias para carros elétricos. Há também aplicações especiais como turbinas de aviões e supercondutores utilizados em equipamentos médicos. Houve um aumento do mercado de 25% em 2018 em relação a 2017. Normalmente os negócios da CBMM crescem entre 5% e 6% ao ano. O preço no período, depois de uma queda prolongada, chegou a 38 dólares por quilo de nióbio, próximo da maior marca histórica, de 42 dólares, alcançada em setembro de 2008. “Não é porque somos líderes de mercado que podemos cobrar o que quisermos”, afirma Ribeiro. “Os nossos clientes têm alternativas e, no ano passado, conseguimos elevar o preço porque a cotação do vanádio, metal concorrente, mais do que dobrou”.
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Atualmente o mercado mundial de nióbio está em torno de 120 mil toneladas por ano — a capacidade produtiva da CBMM é de 110 mil toneladas. Para efeito comparativo, a produção anual de aço é de 1,7 bilhões de toneladas. Usa-se 500 gramas de nióbio para cada tonelada de aço, a fim de melhorar suas propriedades — atualmente entre 10% a 12% do aço produzido no mundo contem nióbio. Embora a produção de nióbio esteja concentrada no Brasil (o País explora 98,2% das reservas ativas no mundo), existem reservas identificadas e não exploradas em várias outras partes do mundo. Se houver um grande aumento da demanda, novas jazidas começarão a ser exploradas e o preço cairá. Apesar de ser um produto muito interessante e estratégico, o nióbio está longe de ser a solução para os problemas econômicos do Brasil.


FONTE: https://istoe.com.br/a-corrida-do-niobio/

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Tabela periódica completa 150 anos sem deixar de ser atual

A empreitada de Mendeleev para organizar uma tabela começou em 1860
Por EFE

(Reprodução/Getty Images)
Reconhecida internacionalmente como um instrumento que facilita o estudo da química, seja entre estudantes ou profissionais, a tabela periódica de elementos criada pelo cientista russo Dmitri Ivanovich Mendeleev completa 150 anos com direito a um ano inteiro internacionalmente destinado a ela.

“A tabela periódica é o alfabeto da química que, por sua vez, é o alfabeto da vida”, afirmou à Agência Efe o presidente da Real Sociedade Espanhola de Química, Antonio Echavarren, que participa nesta terça-feira do lançamento do Ano Internacional da Tabela Periódica, em Paris, criado pela Organização das Nações Unidas.

Debates, congressos, exposições e várias atividade serão realizadas para enaltecer este importante instrumento da pesquisa científica e o seu criador.

“Todas as ciências têm seus heróis. A biologia tem Darwin, a física tem Einstein, e a química, entre outros, Mendeleev, que é um dos mais importantes”, explicou Echevarren.

A empreitada de Mendeleev para organizar uma tabela começou em 1860 na cidade de Karlsruhe, na atual Alemanha, durante um congresso de química que tentava dar uma terminologia clara aos elementos. Na ocasião, ele percebeu que existiam padrões de comportamento em função do peso químico, o que permitiu estabelecer uma ordem. E foi além. Percebeu que, nesses padrões, havia lacunas que respondiam a elementos que ainda não tinham sido descobertos.

A partir disso, estabeleceu um sistema de ordenação em uma tabela que deixava aberta a porta para a incorporação de novos elementos. Até então desconexa, a química tinha encontrado um caminho para poder basear seus trabalhos.

Então aos 35 anos, o cientista, que nasceu na Sibéria e viveu quase toda a vida em São Petersburgo, na Rússia, não podia imaginar que sua invenção fosse se tornar essencial para a química. Quando foi elaborada, 63 elementos eram conhecidos, mas logo sua flexibilidade se revelou muito útil, já que novas inserções ocorreram.

Quase seis anos depois de sua criação, como previu o russo, entrou o Gálio (Ga). Em 1879, foi descoberto o Escândio (Sc), e oito anos depois, o Germânio (Ge).

“A tabela foi ganhando forma até se transformar em um instrumento icônico de grande valor. Ela é fundamental para conhecer mais de perto os instrumentos da matéria”, disse à Efe o pesquisador do Instituto de Química Orgânica Geral do Centro Espanhol de Pesquisas Científicas, Bernardo Herradón.

Para ele, a tabela periódica é a maior contribuição da química à cultura da humanidade e pode ser comparada aos números da escola pitagórica da Grécia clássica.

A Ciência já identificou 94 elementos encontrados de forma natural na Terra. Mas, desde que a radiação artificial foi descoberta, na década de 40, ela parou de trabalhar na incorporação de outros.

A busca é complexa e precisa de um forte esforço financeiro, por isso só quatro instituições no mundo, localizadas nos Estados Unidos, na Rússia, na Alemanha e no Japão, trabalham em novos elementos. Os quatro últimos foram validados em novembro de 2016: Nihonium (Nh), Moscovio (Mc), Téneso (Ts) e Oganesson (Og), mas já existam indícios de que o elemento 119 e o elemento 120 estejam prontos para serem reconhecidos.

A fronteira, mais uma vez, está no espaço. Considera-se que a tabela de Mendeleev contenha apenas 5% dos elementos, já que os demais estão no Universo em forma de energia ou matéria escura, ainda não descobertas.

A Assembleia Geral da ONU declarou 2019 como o Ano Internacional da Tabela Periódica e encarregou à sua agência para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) a gestão, que será canalizada através de uma série de atividades a partir de hoje.

“O objetivo passa por mostrar a importância da tabela periódica nos avanços científicos, mas também em promover a Ciência entre os jovens e divulgar o trabalho dos pesquisadores, em especial o das mulheres”, afirmou à Efe a diretora da Divisão de Políticas Científicas da Unesco, Peggy Oti-Boateng.

FONTE: https://exame.abril.com.br/ciencia/tabela-periodica-completa-150-anos-sem-deixar-de-ser-atual/

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Professora sueca contrata mercenários para salvar doutorando do Estado Islâmico

Aluno temia por sua família no Iraque e foi resgatado em operação cinematográfica

por Anna Virginia Balloussier
Charlotta Turner, professora da Universidade de Lund (Suécia), e Firas Jumaah, doutorando resgatado de área ocupada pelo Estado Islâmico - Universidade de Lund
Como lidar quando um dos alunos de doutorado que você orienta manda uma mensagem para avisar que infelizmente não poderá entregar sua tese?

Charlotta Turner, professora de química na sueca Universidade Lund, não quis nem saber: Firas Mohsin Jumaah ia, sim, concluir seus estudos, nem que para isso ela precisasse contratar mercenários para livrar seu orientando das garras do Estado Islâmico.

Assim foi.

Firas é yazidi, uma minoria religiosa perseguida em seu país natal, o Iraque. E para lá foi dias antes de escrever à orientadora, preocupado com a segurança da esposa e seus dois filhos pequenos. Eles haviam viajado para o casamento de um parente, e Firas ficou na Suécia - tinha trabalho acadêmico para entregar.

Correu atrás da família e, uma vez no Iraque, escreveu a Charlotta: se ele não voltasse em uma semana, que ela encarecidamente o excluísse do programa de doutorado.

Nem pensar, ela decidiu. "Na Suécia, temos uma regra, que inclusive é uma lei, que diz que você tem o direito de defender sua tese de doutorado enquanto viver, por sua vida inteira", a acadêmica disse à reportagem.
"A pesquisa tem sua integridade própria. Achei inaceitável cumprir o que Firas sugeriu, chutá-lo do doutorado só por ele estar preso na guerra do Iraque. Nenhum conflito político-religioso deve impedir a ciência de avançar, atrapalhar meus alunos de doutorado a obter seu diploma. Isso é importante para mim."

A trama de dar inveja a roteiristas hollywoodianos aconteceu em 2014 e veio a público agora, após uma amiga jornalista de Charlotta fazer um documentário sobre o caso.

Nada veio à tona antes pois, segundo Charlotta, Firas e família estavam traumatizados e ainda temiam por suas vidas.
Charlotta Turner, professora da Universidade de Lund (Suécia), e Firas Jumaah doutorando resgatado no Iraque - Reprodução/Twitter
Assim que recebeu a mensagem de texto do doutorando, o primeiro passo da professora foi ligar e entender que história é essa de não voltar para a universidade. Firas, nervoso, chorava. Ela entendeu que era um caso de vida ou morte.

A família dele desembarcou no Iraque dias antes da facção terrorista se autodeclarar um califado, o Estado Islâmico (que até 2017, ano do seu declínio, controlou extensões de território no país e na Síria).

Os terroristas atacaram uma cidade vizinha à que a esposa de Firas estava com os filhos do casal. Mataram milhares de yazadis e escravizaram outros tantos no que ficou conhecido como Massacre de Sinjar. 

"Minha esposa estava em pânico total. Todos estavam chocados com o Estado Islâmico", ele relatou à LUM, a revista da universidade. "Que tipo de vida eu teria se algo acontecesse com eles lá?"

Foi até eles e não conseguiu mais voltar. A certa altura, o Estado Islâmico chegou a dominar uma área a 20 quilômetros da casa onde a família estava. Chegaram a cogitar se esconder nas montanhas.

Charlotta ouviu aquele conto de terror e acionou o chefe de segurança da Lund, que a ajudou a achar uma companhia que topasse a operação de resgate. Dias depois, Faris e a família foram encontrados por seis mercenários armados, divididos em dois jipes do modelo Land Cruiser.

Com coletes a prova de balas, eles foram retirados de uma cidade no norte iraquiano, passando por vários postos de controle até um aeroporto. "Nunca me senti tão privilegiado, VIP", disse Firas.

Sua professora pagou cerca de 60 mil coroas suecas (R$ 25 mil) para a equipe de segurança que o socorreu, dinheiro depois debitado do salário dele. Na Suécia, doutorandos são remunerados com até 30 mil coroas suecas por mês.

Charlotta conta que orienta estudantes de todo o mundo, incluindo Brasil, China e Paquistão, e nos grupos de pesquisa sob sua tutela também são tópicos de debate igualdade, psicologia de grupo, liderança e ética da ciência.

Na ciência, diz, "somos todos iguais, não importa de onde viemos ou no que acreditamos quando você pesquisa química analítica, como no meu grupo. Desde que você tenha uma paixão pelo ofício, curiosidade e a disposição para trabalhar duro e com ética".

Com Firas ela ainda assinaria muitos artigos acadêmicos, o mais recente de 2018, sobre "quantificação multicomponente contínua durante extração com fluído supercrítico aplicada a microalgas".

"Fiquei chateada com a situação de Firas porque ele era o meu estudante, e era minha responsabilidade que ele terminasse a tese", diz Charlotta.

"Não tinha ideia que um professor poderia fazer algo por nós", Firas disse à revista LUM. Charlotta estava de férias quando organizou tudo.

FONTE: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/01/professora-sueca-contrata-mercenarios-para-salvar-doutorando-do-estado-islamico.shtml