Fórum Internacional da OCDE, Instituto Ayrton Senna e MEC discutiu a importância de habilidades como perseverança, amabilidade e curiosidade para o sucesso escolar e profissional dos alunos. Veja resumo com os principais destaques do encontro:
Yves Leterme, secretário-geral delegado da OCDE, e James Heckmann, prêmio Nobel de Economia, participaram do Fórum internacional. (Foto: Estúdio Euka)
Representantes de 14 países, gestores e pesquisadores vieram a São Paulo para discutir quais são as habilidades necessárias para o sucesso escolar e na vida futura das crianças e como criar políticas públicas para medir e desenvolver essas habilidades. “A globalização e o desenvolvimento sem precedentes da ciência e da tecnologia estão mudando a maneira de vivermos, trabalharmos e produzirmos. O que é preciso para nossas crianças enfrentarem esses desafios com sucesso?”, disse a presidente do Instituto Ayrton Senna (IAS), Viviane Senna, na abertura do Fórum Internacional de Políticas Públicas “Educar para as Competências do Século 21”, organizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), IAS, INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e o Ministério da Educação.
Uma intensa revisão bibliográfica de pesquisas e estudos, realizada pela OCDE em parceria com o IAS, levantou evidências de que, para alcançar sucesso na escola e na profissão, não basta ter um diploma e boas notas, índices que atestam as chamadas habilidades cognitivas (linguagem, raciocínio, pensamento crítico etc). Outras competências, conhecidas como não-cognitivas ou socioemocionais, como perseverança, disciplina, colaboração e curiosidade, importam tanto ou mais para o sucesso e bem-estar dos alunos e da sociedade, com resultados positivos em segurança e saúde, por exemplo. Leia mais sobre o que são as habilidades não-cognitivas e veja quais foram as habilidades consideradas essenciais.
“Temos um currículo oculto, um conjunto de habilidades importantes sobre as quais não temos consciência, mas que são determinantes no sucesso das crianças. Precisamos desenvolvê-las de maneira sistemática e ordenada no cotidiano escolar para poder usufruir dos benefícios delas”, disse Viviane.
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Figura de http://educarparacrescer.abril.com.br/ |
Avaliação inédita
O segundo passo da parceria entre OCDE e IAS foi, depois de mapear as habilidades, criar um instrumento inédito para mensurar seu impacto na aprendizagem das crianças, batizado de SENNA (Social and Emotional or Non-cognitive Nationwide Assessment, em inglês, ou Avaliação Nacional Não-cognitiva ou Socioemocional). Quase 25 mil crianças da rede estadual do Rio de Janeiro foram submetidas à avaliação piloto, composta por um questionário socioeconômico e outro sobre quais características enxergam em si mesmas. Os resultados confirmaram a expectativa em relação à importância dessas habilidades. Cruzando os resultados com os dados do SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), a avaliação mostrou, por exemplo, que altos níveis de persistência e disciplina, reunidas sob o termo “conscienciosidade”, podem significar uma vantagem de 4,5 meses de aprendizado em Matemática.
O papel da família
Os resultados da avaliação também reafirmaram a importância das famílias para o desenvolvimento cognitivo e não-cognitivo das crianças. “Esse processo começa no útero, é lá que a criança começa a aprender. Uma parte fantástica começa na família e depois isso vai repercutir no sistema escolar”, disse o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Jorge Guimarães.
O relatório mostra que atitudes simples fazem toda diferença. “O que mais importa para o desenvolvimento das habilidades não-cognitivas são hábitos e atitudes da família, como o incentivo ao estudo – que tem um impacto enorme -, a frequência com que os filhos vêm os pais lendo, a frequência com que elas leem. Isso importa muito mais do que o contexto socioeconômico ou a escolaridade dos pais“, disse Daniel Santos, professor de Economia e um dos autores do relatório dos resultados da avaliação. O simples incentivo ao estudo tem duas vezes mais influência do que a renda para aspectos como Conscienciosidade (perseverança e disciplina), Lócus de controle (protagonismo, iniciativa) e Abertura a novas experiências (curiosidade, imaginação, não ter medo de errar).
O professor James Heckman, prêmio Nobel de Economia em 2000, também acredita na importância das famílias. “Boas intervenções fazem o que bons pais fazem. Não é para haver um currículo em que o professor fique explicando [essas habilidades] para uma sala de aula, ainda temos que descobrir como intervir. Mas eu acho que tem a ver com a interação, a maneira como os pais e mentores fazem”, disse.
Termo de cooperação
Durante a discussão, vários especialistas falaram sobre a importância e o desafio de preparar as escolas e os professores para essa nova tarefa. Porém, Viviane Senna, presidente do IAS, reforçou que, ao contrário do que pode parecer, adicionar essa responsabilidade aos educadores não irá sobrecarregar o trabalho, pois as habilidades não-cognitivas facilitam o processo de aprendizagem. “O professor já se depara com situações oriundas da falta dessas habilidades, como violência, falta de cooperação e de motivação. Se o professor conseguir desenvolver essas habilidades nas crianças, terá seu trabalho facilitado!”.
Na ocasião do Fórum, foi assinado o termo de cooperação para o lançamento de programa de bolsas entre a Capes o Instituto Ayrton Senna. Por meio dele, pesquisadores e professores de escola pública serão chamados para formar instrumentos para desenvolver essas habilidades em grande escala nas escolas públicas. “Esse assunto é novo não só para o Brasil, mas para o mundo. Não existe nada pronto ou resolvido”, disse a presidente do IAS, Viviane Senna. A intenção é formar uma massa crítica para transformar esse conhecimento em política pública.
FONTE:http://educarparacrescer.abril.com.br/blog/boletim-educacao/2014/03/26/avaliacao-inedita-mede-impacto-das-habilidades-socioemocionais-na-vida-escolar-de-alunos-brasileiros/