terça-feira, 28 de novembro de 2023

Temida, química exige relações com o cotidiano; saiba como estudar

por DHIEGO MAIA
Cheia de abstração, a química conquista o topo do ranking quando se trata das matérias mais temidas pelos alunos no vestibular.
Ueslei Viana Batista, 22, candidato a uma vaga em economia, diz que vê o professor perder o fôlego em sala para ensinar a disciplina. "Mas não rola. Não consigo visualizar a teoria."
A química está no guarda-chuva das ciências da natureza, que ainda abriga física e biologia. A grande quantidade de fórmulas, gráficos e estruturas muito específicas acaba assustando os alunos.
A dificuldade, afirma Israel Almeida, professor do Etapa, está em aproximar essas reações do cotidiano. "Esqueça a química de laboratório. O vestibular está cobrando mais os processos que acontecem no fogão, na cozinha."
"Ela estuda reação. É sobre como transformar açúcar em álcool", diz o professor Antônio Mario Salles, do Objetivo.
Bruno Santos/ Folhapress
O estudante Ueslei Viana Batista, do cursinho Objetivo
O estudante Ueslei Viana Batista, do cursinho Objetivo
Para percebê-la no dia a dia, basta prestar atenção ao que acontece em volta, afirmam os professores. Um exemplo recente: nos Jogos do Rio, uma piscina que recebeu as provas de saltos ornamentais ficou verde.
A explicação: o uso de peróxido de hidrogênio anulou o cloro e permitiu a proliferação de matéria orgânica na água, segundo a organização.
"É um caso real que envolveu a química. O aluno precisa saber que elementos são esses e como isso ocorreu", afirma Almeida, do Etapa.
Ainda assim, relacionar a química a outras matérias e assuntos é uma grande dificuldade, diz Roberta Cazedini, 18, que estuda no cursinho Oficina do Estudante, em Campinas. "É a matéria mais complexa do ensino médio, abrange muita coisa."
MAIS AMOR, POR FAVOR
O engenheiro mecânico aeronáutico Thiago Costa, que leciona química no Poliedro, diz que sua missão em sala é a de minimizar "o ódio em relação à disciplina". "É uma área que exige do aluno raciocínio matemático, uma alta capacidade de memorização e de estabelecer correlação com outras áreas. E, além do mais, não há macete. Sem treino, não é possível entender química", diz Costa.
É treinando e fazendo resumos após cada aula que Jade de Moura, 19, candidata a uma vaga em medicina, está se preparando para a primeira fase da Fuvest, que acontece no dia 27 de novembro. "Um dos meus exercícios preferidos é tentar definir os conceitos da matéria com as minhas próprias palavras. Isso tem me ajudado."
PÓDIO
Desde o 9º ano do ensino fundamental, o estudante Vitor Pires, 17, do Etapa, é fã da química. Em julho, ele e mais três colegas representaram o Brasil na Olimpíada Internacional de Química, realizada na Geórgia.
Zanone Fraissat/Folhapress
Vitor Pires, 17, medalhista de prata na Olimpíada Internacional de Química
Vitor Pires, 17, medalhista de prata na Olimpíada Internacional de Química
Todos subiram ao pódio. Pires e mais um colega de sala conquistaram a prata. Os demais representantes do país, de Fortaleza (CE), ganharam o bronze.
Para o medalhista, que vai tentar uma vaga no curso de direito, a química ajuda a "desenvolver o raciocínio lógico, que pode ser usado em qualquer outra coisa".
O professor Guilherme Marson, do Instituto de Química da USP, atribui a dificuldade dos estudantes com a matéria a uma mistura entre falta de estrutura nas escolas e má formação dos professores.
De acordo com o Ministério da Educação, 40% dos professores que dão aulas de química no país não têm formação específica na área.
Para piorar a situação, apenas 8,6% das escolas públicas de ensino fundamental e 43,9% de ensino médio têm laboratório de ciências, segundo estudo do Movimento Todos pela Educação. "Assim fica difícil alfabetizar os alunos brasileiros na linguagem própria da química", afirma Marson.

FONTE: http://m.folha.uol.com.br/educacao/2016/08/1805287-temida-quimica-testa-aluno-em-problemas-do-cotidiano-saiba-estudar.shtml

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