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Com mensagens rápidas e um toque de humor, os memes saíram das redes sociais para conquistar um novo espaço: a sala de aula. Na hora de preparar “aquela aula que você respeita” e descansar com “a serenidade no olhar de quem aproveita o que #BombouNaRede para ensinar”, como diria a popular linguagem da internet, a cultura digital se tornou uma aliada dos professores para atrair a atenção dos alunos e trabalhar conceitos de diferentes disciplinas.
Em junho, a foto de uma prova de português da Escola Móbile, em São Paulo (SP), fez sucesso nas redes sociais ao trazer uma questão com um meme sobre crase. A publicação, compartilhada pela página Site dos Menes , chegou a ter mais de 17 mil interações no Facebook e 161 retweets no Twitter. Pouco tempo antes, um professor de Belo Horizonte (MG) também já tinha ganhado destaque na internet após usar fotos da Gretchen, conhecida como a rainha de memes, para entregar as notas de avaliações. A publicação compartilhada por uma aluna chegou a ter 27.809 retweets.
Conhecidos por apresentarem imagens legendadas, vídeos ou expressões que se espalham pela internet rapidamente, os memes chegaram a ser apontados por pesquisadores como um novo gênero textual da era digital. Apesar de ainda existir pouco conhecimento sobre esse universo, não dá para negar que ele se popularizou entre adolescentes, jovens e até mesmo adultos.
Criado pelo zoólogo britânico Richard Dawkins, o conceito de meme foi apresentado pela primeira vez em 1976, no livro “The Selfish Gene” [O Gene Egoísta]. Antes mesmo da popularização da internet, o pesquisador usou o termo para se referir a uma nova unidade de replicação, que de forma semelhante ao papel exercido pelos genes na evolução biológica, seria responsável pela transmissão de conteúdos de uma determinada cultura.
“Originalmente falando, o conceito de meme está relacionado a uma ideia ou fenômeno cultural que persiste através do tempo. Quando levado para a internet, ele acaba se tornando um fenômeno efêmero”, explica o professor Viktor Chagas, do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense, onde atualmente também coordena o #MUSEUdeMEMES.
Como uma espécie de webmuseu, o projeto criado por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense se propõe a preservar a memória efêmera dos memes e construir acervo de referência sobre o universo digital. Apesar do tom bem humorado, o site mostra que por trás desse fenômeno existem muitos elementos importantes da cultura popular que refletem o debate cotidiano. “As pessoas que produzem esses conteúdos são naturalmente muito antenadas ao que está acontecendo ao seu redor”, diz.
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Ele também afirma que os memes podem ser uma ferramenta educacional útil para promover o letramento digital e trabalhar temas da atualidade. “É como se o aluno não precisasse apenas manipular ferramentas digitais. O que menos importa é saber editar uma imagem ou um vídeo, mas conseguir entender uma piada e fazer uma boa referência”, avalia.
Embora os memes sejam conhecidos pelo seu caráter de humor, o professor da Universidade Federal Fluminense também diz que, nos últimos anos, um conjunto de conteúdos e demandas sociais começaram a circular pelas redes sociais. “Conseguimos identificar que, em virtude do nosso contexto, tivemos uma produção de memes políticos que necessariamente não estão associados ao humor”, cita. Como exemplos, ele também aponta produções que discutem o feminismo e a questão racial por meio dessa linguagem.
Foi a partir de um meme sobre relações étnico-raciais que a professora de história Melina Pinotti, da Escola Estadual Professora Nair Palácio de Souza, no município de Nova Andradina (MS), teve a ideia de usar a cultura digital para trabalhar conteúdos da Revolução Francesa, que teve como lema as propostas de “igualdade, liberdade e fraternidade”.
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Depois de apresentar a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” e a “Constituição da República Federativa do Brasil”, a professora pediu para os alunos criarem memes que denunciavam as desigualdades. “Quando eu falei que eles iriam criar um meme, já pensaram que era uma brincadeira para fazer piada. Os jovens têm um entendimento de que o meme precisa ser engraçado, mas não é só isso. Ele tem que ter uma mensagem rápida”, conta.
E para quem acha que só é possível usar os memes com conteúdos de disciplinas humanas, uma pesquisa feita pelo professor Paulo Gonçalo Farias Gonçalves, da Universidade Federal do Cariri, em Juazeiro do Norte (CE), mostrou que a matemática também pode se beneficiar dessa linguagem.
Depois de analisar conteúdos dez páginas sobre educação matemática no Facebook, o professor identificou que os memes podem ser aproveitados para construir enunciados de questões, apresentar desafios, instigar discussões sobre formação pedagógica, histórica e filosófica da disciplina e ainda auxiliar na memorização de fórmulas ou conceitos. “Eu percebi que os memes de matemática trazem muitas curiosidades e questões de entretenimento, mas nem sempre eles estão associados a um fato engraçado. Eles também podem ser usados para retratar diversos conteúdos, como álgebra, geometria e aritmética”, aponta.
Na hora de entrar na sala de aula, apesar dos memes ainda enfrentarem a resistência de alguns educadores, o pesquisador garante que eles podem ser uma boa ferramenta educacional. “Os professores enxergam as redes sociais como concorrentes da aula, mas quando falamos em educação para a atualidade, temos que trazer esses elementos como agregadores que podem ajudar o ensino de matemática”, sugere.
Fonte: https://cieb.net.br/sucesso-nas-redes-sociais-memes-tambem-podem-ensinar/