“No ensino de Ciências, em especial de Química, comumente utiliza-se uma metodologia tradicional, em que prevalece a exposição oral por parte dos professores, com o uso de recursos didáticos limitados, e com pouca ou nenhuma interação com os alunos, ocasionando uma aprendizagem mecânica e sem motivação” (Costa e col., 202).1
Não se pode negar, essa é uma frequente realidade em nossas salas de aula. Mas como inovar e sair do lugar-comum? Que tal uma interessante atividade baseada em desvendar mitos da internet, como o do carro que supostamente andaria 1 mil quilômetros com 1 litro de água?
Assista abaixo ao polêmico vídeo:
O mito, famoso, até já gerou cópias, como o da moto que faria 500 km com 1 litro de água. O compartilhamento desses mitos nas redes sociais, como se fossem verdadeiros, evidencia uma característica preocupante: o alto índice de analfabetismo científico na população brasileira, até mesmo nas camadas mais instruídas. No entanto, esse vídeo configura um excelente tema para o uso da Metodologia da Problematização. Para tal, segundo Berbel (1998), deve-se preparar uma atividade em cinco passos:
1) Observação da Realidade
Os alunos devem analisar o fato, registrar suas observações e elaborar algumas questões prévias. Exemplo: A água pode realmente funcionar como combustível? De que modo?
2) Identificação dos pontos-chave
Uma discussão em grupo deve ser orientada de modo que os alunos identifiquem as perguntas cruciais para as quais deverão propor respostas. Exemplos: Por que ninguém descobriu isso antes? A eletrólise de um litro de água pode realmente gerar energia para uma moto percorrer 500 km?
“Neste momento os alunos, com as informações que dispõem, passam a perceber que os problemas de ordem social […] são complexos e geralmente multideterminados” (Berbel, 1998).
3) Teorização
Momento da investigação, em que os alunos consultam fontes de informação sobre o problema. O professor pode e deve auxiliar na escolha de fontes confiáveis. Importante: note que nessa atividade os professores deixam de ser os fornecedores de conhecimento e os estudantes deixam de desempenhar papeis passivos de meros receptores de informação.
4) Hipóteses de Solução
A investigação deve abastecer os alunos de maneira que eles elaborem uma argumentação consistente para suas conclusões. Observe que, naturalmente, haverá um envolvimento com tópicos essenciais de fundamentos da Química.
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Imagem reprodução do site |
Note que não se espera que os alunos cheguem a respostas “corretas”, mas que levantem hipóteses; eles devem expressar livremente suas ideias e hipóteses de solução com base em conhecimentos anteriores e em novos saberes agregados em sua investigação. Nessa proposta, o professor deve atuar como mediador da discussão, configurando-se um trabalho colaborativo entre o professor e o estudante e entre os próprios estudantes.
5) Aplicação à Realidade
“Do meio observaram os problemas e para o meio levarão uma resposta de seus estudos, visando transformá-lo em algum grau”(Berbel, 1998). Uma possibilidade para tal, seria a criação de um blog em que os alunos registrassem seus argumentos derrubando o mito. Assim, os estudantes são confrontados com seu papel de cidadão frente à modificação da realidade social, em especial daquela à sua volta.
Em uma atividade como essa se tem muito a ganhar:
(1) um natural aumento na motivação do aluno, que sai da passividade da aula expositiva, colocando-o em posição de protagonismo;
(2) desenvolvimento de espírito crítico frente a situações reais, verdadeiramente próximas de seu cotidiano.
Agora é com você: escolha um mito (são muitos!) e mãos à obra!
Escrito pelos autores Emiliano Chemello e Luís Fernando Pereira. Ambos são coautores, juntamente com Alberto Ciscato, da coleção QUÍMICA, da Editora Moderna.
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