terça-feira, 9 de maio de 2017

Usando mitos da internet como temas para problematização

No ensino de Ciências, em especial de Química, comumente utiliza-se uma metodologia tradicional, em que prevalece a exposição oral por parte dos professores, com o uso de recursos didáticos limitados, e com pouca ou nenhuma interação com os alunos, ocasionando uma aprendizagem mecânica e sem motivação” (Costa e col., 202).1
Não se pode negar, essa é uma frequente realidade em nossas salas de aula. Mas como inovar e sair do lugar-comum? Que tal uma interessante atividade baseada em desvendar mitos da internet, como o do carro que supostamente andaria 1 mil quilômetros com 1 litro de água?
Assista abaixo ao polêmico vídeo:
O mito, famoso, até já gerou cópias, como o da moto que faria 500 km com 1 litro de água. O compartilhamento desses mitos nas redes sociais, como se fossem verdadeiros, evidencia uma característica preocupante: o alto índice de analfabetismo científico na população brasileira, até mesmo nas camadas mais instruídas. No entanto, esse vídeo configura um excelente tema para o uso da Metodologia da Problematização. Para tal, segundo Berbel (1998), deve-se preparar uma atividade em cinco passos:







1) Observação da Realidade

Os alunos devem analisar o fato, registrar suas observações e elaborar algumas questões prévias. Exemplo: A água pode realmente funcionar como combustível? De que modo?

2) Identificação dos pontos-chave

Uma discussão em grupo deve ser orientada de modo que os alunos identifiquem as perguntas cruciais para as quais deverão propor respostas. Exemplos: Por que ninguém descobriu isso antes? A eletrólise de um litro de água pode realmente gerar energia para uma moto percorrer 500 km?
Neste momento os alunos, com as informações que dispõem, passam a perceber que os problemas de ordem social […] são complexos e geralmente multideterminados” (Berbel, 1998).

3) Teorização

Momento da investigação, em que os alunos consultam fontes de informação sobre o problema. O professor pode e deve auxiliar na escolha de fontes confiáveis. Importante: note que nessa atividade os professores deixam de ser os fornecedores de conhecimento e os estudantes deixam de desempenhar papeis passivos de meros receptores de informação.

4) Hipóteses de Solução

A investigação deve abastecer os alunos de maneira que eles elaborem uma argumentação consistente para suas conclusões. Observe que, naturalmente, haverá um envolvimento com tópicos essenciais de fundamentos da Química.
Imagem reprodução do site
Note que não se espera que os alunos cheguem a respostas “corretas”, mas que levantem hipóteses; eles devem expressar livremente suas ideias e hipóteses de solução com base em conhecimentos anteriores e em novos saberes agregados em sua investigação. Nessa proposta, o professor deve atuar como mediador da discussão, configurando-se um trabalho colaborativo entre o professor e o estudante e entre os próprios estudantes.

5) Aplicação à Realidade

Do meio observaram os problemas e para o meio levarão uma resposta de seus estudos, visando transformá-lo em algum grau”(Berbel, 1998)Uma possibilidade para tal, seria a criação de um blog em que os alunos registrassem seus argumentos derrubando o mito. Assim, os estudantes são confrontados com seu papel de cidadão frente à modificação da realidade social, em especial daquela à sua volta.
Em uma atividade como essa se tem muito a ganhar:
(1) um natural aumento na motivação do aluno, que sai da passividade da aula expositiva, colocando-o em posição de protagonismo;
(2) desenvolvimento de espírito crítico frente a situações reais, verdadeiramente próximas de seu cotidiano.
Agora é com você: escolha um mito (são muitos!) e mãos à obra!

Escrito pelos autores Emiliano Chemello Luís Fernando Pereira. Ambos são coautores, juntamente com Alberto Ciscato, da coleção QUÍMICA, da Editora Moderna.

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