quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Química também se aprende (muito) brincando (muito tb... só querer!)

Trunfo Químico: semelhante ao já conhecido Supertrunfo,
    jogo pretende tornar o aprendizado mais interessante 
Por: Vinicius Zepeda
Em um dos episódios da série de filmes Jornada nas Estrelas, o ser humano é identificado por uma forma de vida alienígena como "unidades de carbono". A frase, apesar de partir de uma realidade fictícia, ilustra uma verdade já comprovada pela ciência. O carbono desempenha um papel especial na estrutura da maioria das moléculas do corpo humano, mais de 90% de nossa massa são basicamente carbono, hidrogênio e oxigênio. Se pararmos para observar, os elementos químicos também estão muito presentes em nosso cotidiano. Nossa higiene bucal é feita com pasta de dentes que contém flúor. Nas frutas e verduras que comemos diariamente há diversos metais, como potássio, magnésio, sódio, ferro. No ar que respiramos, há predominantemente oxigênio e nitrogênio. Os chips de computador contem silício em sua composição. As moedas possuem frequentemente cobre, ferro, níquel e estanho. Apesar disso, grande parte dos alunos do ensino médio não consegue perceber a utilidade prática da química. A disciplina, então, passa a ser considerada extremamente abstrata e enfadonha. Pensando em aproximar o ensino da química ao cotidiano, uma equipe de designers, programadores e professores, coordenada pelo engenheiro químico e professor do Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj) Esteban Lopez Moreno, está desenvolvendo uma forma de os estudantes se divertirem e ao mesmo tempo aprenderem o conteúdo da disciplina: é o jogo Trunfo Químico. O projeto conta com auxílio do edital Apoio à Publicação de Material Didático, da FAPERJ.

Semelhante ao conhecido jogo de cartas Supertrunfo, sucesso na década de 1980 e ainda atual, Trunfo Químico substitui os carros, aviões e motos do similar original por elementos químicos. Numa versão em CD – que ainda está sendo desenvolvida –, ele pode ser jogado no computador contra a máquina. De todos os elementos químicos listados na tabela periódica pela União Internacional da Química Pura e Aplicada (Iupac, na sigla em inglês), órgão que normatiza as descobertas da Química em nível mundial, o jogo usa os 32 mais comuns. As cartas são divididas entre um mínimo de dois participantes e um máximo de oito, que recebem quatro delas cada um. Cada carta traz seis características daquele elemento: densidade, raio covalente, ponto de fusão, primeira energia de ionização, eletronegatividade e abundância no corpo humano. "O jogador deve escolher uma das características e comparar com a dos adversários, quem tiver o maior valor ganha as cartas da rodada", explica Moreno.

Além das seis características, Moreno destaca mais três detalhes: o primeiro é a bandeirinha do País onde aquele elemento foi descoberto e o ano. O segundo são imagens que ilustram a presença de cada um dos elementos químicos no cotidiano, como forma de aproximar o conhecimento da realidade do aluno. Segundo Moreno, a seleção das imagens foi motivo de intensos debates entre os membros da equipe. "Queríamos encontrar imagens que fizessem parte do imaginário dos estudantes e, desta forma, estimulassem o interesse pela química. Balões, por exemplo, mostram a importância do gás hélio para enchê-los; certas frutas, como a banana, mostram que são ricas em potássio; conchas marinhas contêm cálcio; e o alumínio está nas latinhas de refrigerante", exemplifica.

O terceiro detalhe é que todas as cartas trazem, em miniatura, uma tabela periódica, indicando onde aquele elemento pode ser encontrado e facilitando a associação da característica do elemento com sua posição. Ao identificar a família do elemento químico de uma carta, o aluno conseguirá perceber qual das seis características listadas é a tem mais chances de fazê-lo ganhar dos jogadores adversários. "Gases nobres, principalmente os da parte superior da tabela, por exemplo, são os que têm menor eletronegatividade. Já os metais de transição, localizados mais ao centro e na parte inferior, são os que têm maior densidade, mas com menor abundância no corpo", acrescenta. Um manual de orientação para aplicação do jogo em sala de aula vem como apoio, para que o professor possa orientar os estudantes durante a partida.

Assim como o Supertrunfo tradicional, que traz uma carta que ganha de todas as outras, Trunfo Químico também conta com sua carta trunfo. "Escolhemos o elemento carbono por estar fortemente identificado como essencial para a existência de vida, da forma como nós a conhecemos", afirma o professor. É a carta que ganha de todas as outras, exceto dos chamados elementos tóxicos, ou seja, aqueles capazes de ameaçar a existência da vida no planeta", explica. Entre os elementos tóxicos, podem ser citados alguns exemplos, como o urânio – matéria-prima de bombas nucleares – e o arsênio – elemento que forma um óxido insípido e incolor, encontrado em poços de água contaminados por minérios contendo este elemento", complementa. Doses extremamente baixas de arsênio, como 1 parte por bilhão (ppb) na água ou 7 partes por milhão (ppm) no solo são capazes de afetar a saúde de plantas e animais, inclusive a saúde humana, levando a doenças, como o câncer, ou mesmo a morte imediata.

O primeiro teste para verificar a aceitação do jogo e sua receptividade junto aos estudantes, e averiguar sua eficácia, ou não, no aprendizado da química, já foi realizado. Sob orientação de Moreno e de sua colega Margarete Pereira Friedrich, a professora Elizete de Moraes Martins da Silva testou o jogo em três turmas do ensino médio do Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Togo Renan Soares "Kanela", na comunidade de Santa Margarida, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio. Depois de disputarem uma partida, 145 alunos com idade de 15 e 16 anos preencheram um questionário avaliativo e deram algumas opiniões.
Entre os estudantes, todos consideraram o jogo uma maneira interessante e mais divertida de aprender a matéria. "No começo, achei difícil, mas depois da explicação da professora, consegui jogar. Tive um pouco de dificuldade, mas foi bom testar a mente e melhorar o aprendizado, além de sair da rotina... Brincar é sempre muito bom!", avaliou um dos alunos. "O jogo facilita o ensino da matéria e ajuda aqueles que têm dificuldade em aprender", falou outro. Segundo Esteban Moreno, os resultados indicam que o produto terá ótima aceitação e pode se estender dos limites da escola, levando a brincadeira para casa. "Ao apresentarmos o projeto num fórum de professores de química, com mais de 600 participantes, eles se mostraram extremamente empolgados", lembra Moreno. Até o fim do ano, Trunfo Químico deverá ser distribuído gratuitamente em todas as 1.680 bibliotecas de escolas públicas do estado. "Além de estimular o aprendizado, o jogo serve para integrar os alunos e fazer com que, no cotidiano, eles se relacionem melhor com seus professores. E a competição os estimula a estudar e a adquirir conhecimentos de uma forma prazerosa... brincando", conclui. É. Aprender química pode ser uma grande diversão...


© FAPERJ – Todas as matérias poderão ser reproduzidas, desde que citada a fonte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário