segunda-feira, 29 de outubro de 2018

A química da memória: dopamina em destaque

Neurotransmissor associado à recompensa, dopamina controla a duração das lembranças
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Representações estruturais da Dopamina
Em testes com ratos, um dos mais importantes grupos internacionais de estudiosos da memória desvendou os fenômenos bioquímicos ligados ao armazenamento persistente das lembranças. Mostrou ainda que a fixação da memória ocorre de modo relativamente independente da sua aquisição: é preciso ser exposto a uma situação para recordá-la, mas o fato de ter sido memorizada não significa que será lembrada por muito tempo.

Em ratos – e bem provavelmente em seres humanos -, as memórias que persistem por períodos longos, às vezes toda a vida, envolvem a ativação de uma região profunda do cérebro: a área tegmental ventral, demonstrou a equipe coordenada pelo neurocientista Martín Cammarota, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), em artigo publicado na Science de 21 de agosto. Com 25 mil neurônios nos roedores e 450 mil nos seres humanos, essa área de poucos milímetros de espessura é a principal produtora do neurotransmissor dopamina no sistema nervoso central.

Em parceria com Jorge Medina, da Universidade de Buenos Aires, Cammarota, Janine Rossato, Lia Bevilaqua  e Iván Izquierdo planejaram uma série de testes para verificar como se dá o armazenamento da memória. Nos experimentos eles submeteram grupos diferentes de ratos a dois tipos de treino. Em um deles, os roedores eram colocados sobre uma plataforma no interior de uma gaiola e recebiam uma descarga elétrica sutil quando desciam para explorar o ambiente. Essa experiência, que causa um leve choque, costuma ser lembrada por poucos dias – os animais se esquecem do choque e voltam a descer da plataforma se o teste é repetido dois ou três dias mais tarde, sinal de que a memória não foi fixada. No outro tipo de treino, que leva ao registro persistente da lembrança, os animais levaram uma descarga duas vezes mais intensa ao sair da plataforma. E se lembravam da experiência desagradável duas semanas mais tarde, tempo longo para os roedores, equivalente a alguns anos para os seres humanos.

Fixação
Entre alguns minutos e 12 horas após os treinos, os pesquisadores injetaram no hipocampo dos ratos, área cerebral ligada ao armazenamento da memória, ora um composto que impede a ação da dopamina, ora um fármaco que simula o efeito desse neurotransmissor. A neutralização da dopamina permitiu aos roedores se recordarem do choque dois dias após o treino inicial. Mas os impediu de lembrar a experiência ruim nas semanas seguintes. “Esse resultado mostra que a formação e a persistência da memória são processos distintos”, explica Cammarota.

Já a aplicação do fármaco que simula a ação da dopamina transformou a memória volátil em persistente: até duas semanas depois de receber o choque leve os roedores se lembravam dele. Mas isso só ocorreu quando o composto foi dado 12 horas depois do treino, sugerindo que a persistência da memória é definida meio dia depois de determinada experiência.

Testes com outros compostos mostraram ainda que as lembranças não se tornam duradouras sem a ativação da área tegmental ventral, produtora de dopamina. É que o acionamento dos neurônios dessa área libera dopamina em uma região vizinha, o hipocampo. No hipocampo a dopamina estimula a produção do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), que dispara a síntese de proteínas que fixam a memória. Nada disso ocorre sem a ativação da área tegmental logo após o treino. “A ativação imediata, que acontece quando o cérebro identifica um evento importante, é essencial para a reativação desse circuito 12 horas mais tarde e o armazenamento da memória”, afirma Cammarota.

Ainda há muitas dúvidas sobre esse processo. Não se sabe por que a decisão de preservar ou descartar a memória só ocorre 12 horas após o aprendizado, se é possível modificá-la em outros momentos, nem se esse fenômeno, observado ao despertar lembrança desagradável (choque), vale para a memorização de eventos prazerosos. Mas a descoberta torna possível o desenvolvimento de compostos que atuem sobre a dopamina e auxiliem a fixação das lembranças em pessoas com doenças que afetam a capacidade de memorização. Esse achado abre também caminho para uma nova compreensão do consumo abusivo de drogas. “Drogas como a cocaína aumentam o nível no cérebro de dopamina, responsável pela sensação de prazer e recompensa”, explica Cammarota. “É possível que um desequilíbrio nesse sistema leve o usuário a se lembrar dos efeitos agradáveis e a apagar da memória os ruins”.

FONTE: http://revistapesquisa.fapesp.br/2009/09/01/a-quimica-da-memoria/

Veja um pouco mais sobre DOPAMINA nos links abaixo:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dopamina
https://www.infoescola.com/bioquimica/dopamina/
https://amenteemaravilhosa.com.br/dopamina-quais-sao-suas-funcoes/


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