Os cientistas modernos, em geral, não gostam de
esoterismos e têm suas razões para isto. A ciência atual se baseia na
teorização e experimentação, sendo que uma teoria publicada só é tida como
válida pela comunidade científica após seus métodos e resultados serem
reproduzidos por vários pesquisadores independentes entre si.
Ou seja, fazer ciência nestes tempos de alta
tecnologia é um ato social que exige muita apresentação, divulgação e debate
dos especialistas que defendem novas teorias junto aos seus pares. Nesse
ambiente, fica claro que a imagem de homens solitários, triturando componentes
e misturando poções, enfurnados em velhos laboratórios pareçam mais próximos da
bruxaria que da pesquisa científica.
Além disso, há hoje em dia tanta gente querendo dar
autoridade científica ao último misticismo da moda, que os cientistas de
verdade preferem passar léguas longe de qualquer associação com esta turma.
Misticismo
e ciência
Se os cientistas preferem manter os holismos da
Nova Era do lado de fora de seus locais de pesquisa, não há como negar a rica
herança vinda de tempos passados, quando a distinção entre o científico e o
místico era quase nenhuma.
É nessas épocas - quando quem estudava os céus eram
astrólogos em busca de presságios e não astrônomos em busca de quasares -, que
um ramo especial da ciência, a química, encontra sua origem e identidade na
arte dos antigos alquimistas, os primeiros mestres dos elementos.
Historicamente a química é a
ciência que estuda as substâncias, suas propriedades, como se combinam e
transformam. Historicamente pois, desde que
se descobriu que as reações químicas são a face visível das interações entre
átomos e que estas interações, por sua vez, são produzidas por mecanismos
eletromagnéticos e quânticos, as fronteiras últimas entre a química e a física
modernas se tornaram um tanto difusas.
Longa
tradição
Mesmo assim, ninguém se atreve a propor que a
química seja rebaixada para o status menor de ramo especialista da física. Em
parte por conta da longa tradição que os químicos construíram ao longo dos
séculos, com suas técnicas, instrumental e habilidades próprios, desenvolvidos
e aperfeiçoados por muito tempo antes dos gás-cromatógrafos e dos espectrofotômetros
de absorção atômica.
E no início desta longa tradição encontramos
justamente aqueles bruxos esquisitos, que pretendiam fazer maravilhas como
transformar chumbo em ouro ou descobrir o segredo da imortalidade.
Paracelso
Suas teorias e métodos podem
parecer não lá muito ortodoxos aos químicos de hoje quando lemos que Paracelso
acreditava que podia sintetizar gente em laboratório, oshomunculus, a partir de matérias primas mais
frequentemente usadas para a produção de fertilizantes.
Mas basta lembrarmos que o mesmo Paracelso, em uma
época em que todos acreditavam que as doenças eram manifestações de um
organismo desregulado, propôs que as moléstias eram causadas por agentes
externos ao corpo e que deveriam ser tratadas com o uso de medicamentos químicos.
Só por isto, não apenas os químicos, como médicos e
farmacêuticos já ficam devendo uma concessãozinha que seja ao alquimista suíço.
A
Pedra Filosofal
A lista dos alquimistas, ou pelo menos daqueles que
se envolveram com a alquimia, inclui personagens que se tornaram imortalmente
célebres em outras áreas como são Tomás de Aquino, Francis Bacon e sir Isaac Newton.
Mas o nome que mais naturalmente é associado à
alquimia é o do francês Nicolau Flamel, cuja biografia é praticamente uma
narrativa épica da busca à Pedra Filosofal, onde fatos e lendas se misturam.
Alquimistas
Os alquimistas eram os mestres de uma tradição
hermética, que acreditavam que forças sobrenaturais, quando corretamente
invocadas, influenciavam nas transformações da matéria.
Mas também eram químicos meticulosos no sentido
moderno da palavra. Técnicos preocupados com a exatidão da pesagem, a pureza da
amostra, a temperatura certa da reação, a granulometria ideal do pulverizado.
Ou talvez devamos dizer que os químicos modernos é
que são alquimistas meticulosos no sentido tradicional da palavra, afinal, os
alquimistas vieram primeiro.
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